terça-feira, 27 de julho de 2010

A festa que nasceu com a queda do muro de Berlim e morreu com a tragédia de Duisburgo

Foi criada na cidade de Berlim, em 1989, para celebrar o entendimento internacional através do amor e da música, depois da queda do muro na capital alemã. Nasceu de uma ideia do músico Matthias Roeingh, mais conhecido por Dr Motte. Termina em 2010, em Duisburgo, na sequência dos acontecimentos que provocaram 20 mortos (segundo o último balanço, de ontem à noite) e meio milhar de feridos no passado fim-de-semana.

Com os anos 2000 a Love Parade perdeu fulgor

"Foi o fim da Love Parade" disse anteontem, em conferência, Rainer Schaller, o actual organizador e gerente do principal patrocinador, a cadeia de centros de ginástica McFitt.

O final da década de 80 e princípio dos anos 90, politicamente, foi marcado pela queda do muro de Berlim. Em termos musicais, o maior acontecimento foi a irrupção da chamada música de dança electrónica, personificada por linguagens como o tecno, house ou trance. A Love Parade celebrava as duas dimensões. Nunca foi um evento pacífico. Do ponto de vista da música criticava-se o facto de ser um acontecimento comercial concebido para grandes massas, onde a faceta artística era relegada para segundo plano.

Do ponto de vista político existiram sempre resistências pelo facto de ser um festival que atraía grandes multidões, colocando problemas difíceis de resolver ao nível da segurança, do ruído ou da acumulação de lixo.

Foi mudando de localização no interior da cidade na segunda metade dos anos 1990, mas isso nunca impediu que congregasse sempre um milhão, ou mais, de pessoas. A maior parte vinha do exterior - do resto da Alemanha e países vizinhos. Chegavam aos magotes, com roupas garridas, dançando ao som dos DJ, nas ruas e nas discotecas, durante todo o fim-de-semana.

Na década de 90 vários países importaram o conceito - ficou famoso um discurso no Parlamento francês do então ministro da Cultura, Jack Lang, defendendo a realização de uma Tecno Parade em Paris, que viria mesmo a efectuar-se - mas sem o mesmo impacto da festa de Berlim. Inclusive, em Portugal, já nesta década, foram tentadas várias réplicas, mas sem grande sucesso.

Nos anos 2000 o acontecimento perdeu fulgor, agravando-se as divergências entre parceiros organizativos e comerciais, que marcaram o evento praticamente desde o início. Dez anos antes a Love Parade tinha ajudado a criar uma nova imagem para Berlim - emancipadora, festiva, celebradora. Agora os problemas suplantavam os benefícios, inclusive os económicos, e outras cidades agarraram a festa - entre 2006 e 2010 foi em Ruhr; em 2008 em Bochum, atraindo 1,6 milhões de pessoas. Este ano aconteceu em Duisburgo. Pela primeira e última vez.

By : Vítor Belanciano

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